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O Muçulmano Ateísta - Ali A. Rizvi

O Muçulmano Ateísta – Ali A. Rizvi
(25/06/2017)

Sou autor do livro chamado "O Muçulmano Ateísta - Uma Jornada da Religião para a Razão”.

O título é uma contradição intencional e óbvia, mas um bocado de "gênios" apontam isso para mim dizendo: "isso é uma contradição". Nunca reclamaram do título do filme "De Volta Para o Futuro" por alguma razão. "O Muçulmanos Ateísta", realmente lhes chamou atenção. A coisa é que existem milhões deles, como mostram algumas pesquisas.

Existem milhões de ateus, agnósticos, secularistas e livres-pensadores no mundo muçulmano, vivendo em países de maioria muçulmana atualmente, obrigados a se identificaram publicamente como muçulmanos.

Se eles falarem isso ou expressarem seus pontos de vista abertamente, serão discriminados por suas famílias, serão marginalizados pela comunidade, perderão suas amizades, podem ser presos e eles podem ser executados,

Ateísmo é crime com pena de morte em 13 países do mundo, todos de maioria muçulmana: Afeganistão, Irã, Malásia, Maldivas, Mauritânia, Nigéria, Paquistão, Catar, Arábia Saudita, Somália, Sudão, Emirados Árabes Unidos e Iêmen.

O preço deles virem a público falar de seus pontos de vista e sacudir a doutrina muçulmana é realimente alto e as consequência são muito sérias. Então, esses são os “muçulmanos ateístas”.

Por causa do risco de criticar o Islã, existem poucos que falam abertamente sobre isso. Tem o Raif Radawi, um blogger da Arábia Saudita, que criou uma web site chamada "Liberais Sauditas Livres" e escreve sobre secularismo.

Eles o prenderam e ele está cumprindo uma sentença de 10 anos de prisão. Foi também sentenciado a receber mil chibatadas. Foi separado de sua família e de suas crianças simplesmente por fazer exatamente o que eu estou fazendo: escrever a respeito de secularismo e de fazer ativismo.

Bloggers em Bangladesh foram assassinados a machadadas nas ruas por lunáticos fundamentalistas islâmicos simplesmente por escreverem o que pensam. Então, provavelmente existem mais, provavelmente muitos, muitos mais, mas esses não querem sofrer o mesmo destino, então você não vai ouvir falar deles. Não ouvimos sobre eles.

Eu tenho recebido na minha caixa de entrada do e-mail, milhares e milhares de notas e mensagens enviadas por ateístas clandestinos do Egito, Malásia, Indonésia, Arábia Saudita, Bangladesh, de todos esses países e tenho notícias deles o tempo todo.

Quando eu estava escrevendo o livro, eles pediam: "pode, por favor, dizer isso, mencione isso ou aquilo, por que aqui não posso dizer isso". Só para colocar alguns números, que provavelmente são ainda subestimados, existe uma pesquisa do Gallup, recente, feita há uns dois anos, mostrando que na Arábia Saudita, o berço do Islã, de Maomé e do Corão, cerca de 19% das pessoas se identificam como não religiosas.

Para comparar, o mesmo número é de 15% na Itália. Na Arábia Saudita, 5% se identifica como ateísta e nos Estados Unidos esse número é também de 5%. A Arábia Saudita tem uma população de aproximadamente 20 milhões de pessoas, isso dá um milhão de pessoas na Arábia Saudita que se identificam como ateístas confirmados.

"A Arábia Saudita, uma teocracia islâmica radical, foi eleita em 2015 para uma posição de liderança no Conselho de Direitos Humanos da ONU".

Eu vivi na Arábia Saudita durante 12 anos. Ela é basicamente um “Taliban” com muito dinheiro. Ela é rica em petróleo e todos querem o que ela tem. Vimos Trump saudando o rei da Arábia Saudita. Vimos Obama saudando o rei da Arábia Saudita. Vimos Bush de mãos dadas com o rei Abdullah, enquanto caminhavam. Essas fotos estão em todos os lugares.

Mulheres não podem dirigir na Arábia Saudita, legalmente. Mas existe uma aliança com eles. Todos parecem querer fazer aliança com eles. Eles são vistos como moderados. Vários outros países do Oriente Médio são menos religiosos que a Arábia Saudita, mas são considerados mais extremistas em muitas maneiras.

Existe uma distorção sobre como esses países são representados no mundo, somente com base na importância política deles ou quão estrategicamente importantes eles são para a gente do ocidente. Muito da cordialidade da ONU com eles tem a ver com isso também.

ISLAMOFOBIA
 "Islamofobia" é um termo usado inadequadamente. O uso atual da palavra "Islamofobia" não distingue a legitima crítica ao Islã do ódio ou preconceito com os muçulmanos. Essa é uma diferença muito importante.

O Islã é uma ideologia, um conjunto de ideias num livro e os Muçulmanos são gente, são uma identidade, são um grupo de seres humanos. As críticas às ideias movem a sociedade para frente, desafiar ideias move a sociedade para frente. Demonizar pessoas separa as sociedades.

Seres humanos têm direitos e ideias não têm. A palavra "islamofobia" não faz essa distinção. Quando falamos "antissemitismo" não usamos "judaísmofobia". Dizemos "antissemitismo" porque preconceito é contra pessoas. Você não consegue ser preconceituoso contra ideias. E isso, quando não fazem essa distinção se torna um termo muito sinistro, porque ele se apropria da dor das vítimas genuínas do preconceito e a explora com objetivos políticos, o que dificulta as críticas ao Islã. 

Os fundamentalistas islâmicos usam o termo "islamofobia" e eles não só o usam, eles "adoram" essa palavra, porque eles podem explorá-la para censurar as pessoas. Podem dizer que se você fizer qualquer crítica ao Islã: "você sabe, você está sendo preconceituoso contra nós".

Dizem até: "Você está sendo racista contra nós", o que não faz sentido, porque o Islã não é uma raça. Ninguém nasce pré-circuncidado, ninguém nasce vestindo um "hijab" na cabeça.

A palavra "islamofobia" dá a eles uma oportunidade de dizer que você é "racista" e fazer que uma crítica genuína ao Islã, uma ideologia, dá oportunidade de fazer que seja vista como a mesma coisa.

Uma coisa que consegui obter bastante dos progressistas ocidentais brancos é que lerão alguma coisa que eu escrevi, que vão ouvir alguma coisa do que falei e particularmente me enviam mensagens dizendo:

"Concordo com você e gostaria de poder dizer o que você está dizendo, mas eu não posso, porque minha família, todos vão chamar-me de racista, vão chamar-me de islamofóbico, então não possa dizer isso, você sabe, sou um cara branco e progressista, então fico feliz que você esteja dizendo"

Falei com alguém há alguns dias, quando eu e Armim Navabi, fizemos um evento na Universidade de Toronto. Uma pessoa veio atrás de mim depois, dizendo:

"Eu realmente gosto de Sam Harris, sempre que vejo algo que ele escreve, mas eu não compartilho, porque todos os meus amigos da lista vão criticar-me, mas quando você diz o mesmo tipo de coisa, posso compartilhar, porque você veio do mundo muçulmano, então, você sabe, está OK. Ninguém me aborrece”.

Isso é um problema. Esses não são só brancos progressistas tímidos, isso é como o terrorismo funciona. Terrorismo não é só, você sabe, a explosão de uma bomba, com pessoas morrendo e cadáveres. Terrorismo também acontece sempre que um jornal decide não reproduzir uma caricatura do Semanário Charlie Hebdo, mesmo um dia depois que uma dúzia de cartunistas são assassinados em nome de Allah.

Terrorismo acontece toda a vez que você exita em falar o que você pensa, por receio que isso pode ofender alguém. Terrorismo acontece quando você diz: "Eu não vou criticar o Islã porque isso vai radicalizar mais muçulmanos contra nós". Quando você diz isso, não está enfraquecendo o terrorismo, você se torna uma vítima dele.

SOLUÇÕES?
Mantenha-se conectado!
Maryam Namazie, fundadora do Conselho de ex-Muçulmanos da Grã-Bretanha, disse que a internet está fazendo ao Islã o que a imprensa escrita fez no passado com o Cristianismo. Isso é verdade.

Eu estava em dúvida se ia ser ateísta ou agnóstico, ia e voltava, por muito, muito tempo. Não falava a ninguém a respeito disso. Só questionava minha família e amigos algumas vezes. Mas, depois descobri haver tantos outros como nós.

Você sabe, nós tínhamos eventos como aquele que Armin e eu fizemos na Universidade de Toronto, do qual estava falando. Isso é uma coisa que não podia ser feita nos tempos de Salmam Rushdie, o autor do livro "Versos Satânicos", na década de 1980. Salmam Rushdie teve que esconder-se durante muitos anos. Isso foi apenas há algumas décadas.

Andamos um longo caminho desde lá. Muito tem que ser feito sobre o fato que existe mais e mais pessoas falando disso. Há mais gente nesses países e os governos não conseguem mais censurar todos. Eles estão em contato com outras pessoas de todo o mundo. Essa troca de ideias essencialmente viraliza. Penso que isso é fantástico

Eu digo a essa gente que tenta escapar das repressões, pessoas que tentam encontrar uma voz. Você sabe, se você é branco ocidental progressista, que tem esses pensamentos reprimidos, que não quer dizer, quando vê o que acontece na televisão, porque não quer ser chamado de "islamofóbico" porque tem medo disso.

Então, conecte-se e vai encontrar gente que pensa igual a você. Você vai encontrar uma plataforma. Você vai encontrar uma audiência. Essa é a única maneira de mudar as coisas, tem que lutar contra ideias com ideias e não com muros e bombas.

                                                      Ali A. Rizvi
                                        -o-o-o-o-

Este texto foi extraído das legendas deste vídeo do Youtube, cujo original em ingl~es pode ser visto neste vídeo. Ali A. Rizvi nasceu no Paquistão e morou na Líbia e Arábia Saudita antes de mudar-se para o Canadá e depois para os Estados Unidos onde escreve há vários anos sobre o secularismo no mundo muçulmano.

                                                    Luigi B. Silvi 
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Twitter: @spacelad43
Contato: spacelad43@gmail.com

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