Algumas Razões Para
Odiar o Jornalismo Pós-Moderno
(29/07/2017)
Quem
já não tomou um susto ao abrir um vídeo do Facebook
ou WhatsApp e aparecer uma boca
enorme apregoando a defesa de uma causa?
Eu
já recebi e assisti tantos desses vídeos que nem os abro mais. O mesmo acontece
em outras redes sociais. Você fica olhando aquela boca enorme, procurando pelas
obturações nos dentes e outros sinais particulares que nem presta atenção no
que aquela boca enorme está dizendo.
Eu
até absolvo esses amadores inexperientes tentando obter alguma projeção pessoal
e conquistar mais seguidores nas redes sociais. O que não suporte mesmo são os
jornalistas profissionais que fazem coisas semelhantes.
Há alguns dias
procurei um vídeo no Youtube sobre os
combates contra o Estado Islâmico e achei vários deles, só que o que mais
aparece é a cara dos repórteres assustados tentando descrever o que se passa
atrás deles, sem dar chances aos assistentes de ver o que está acontecendo.
Muitas
vezes vemos apenas o repórter gaguejando por causa dos sustos que toma com as
explosões das bombas, segurando o capacete e tão ignorante do que se passa atrás
dele quanto as pessoas que estão assistindo.
Não
seria mais prudente e informativo se a repórter ficasse ao lado do
cinegrafista, em lugar abrigado e seguro, de frente para o inimigo, descrevendo
o que acontece na frente dela em vez do que está atrás dela?
Outro
repórter estava dentro de um campo de refugiados cristãos no norte do Iraque
descrevendo a precariedade dos refugiados, mas ocupava 80% da tela e não dava
para ver o que era tão precário atrás dele.
Assisti
mais alguns vídeos, pois pretendia legendar um vídeo o publicar no Youtube
sobre a situação das comunidades cristãs que estão sendo dizimadas pelo Estado
Islâmico, mas acabei desistindo.
Aqui no Brasil não é
diferente, parece que os repórteres têm que aparecer na tela o tempo todo,
enquanto falam sobre um assunto que está atrás deles. Já me surpreendi
esticando o pescoço para enxergar o objeto do qual eles estão falando.
O
repórter fala o que decorou antes e diz as coisas que reforçam a narrativa
ideológica dele ou de quem pagou a emissora para enfatizar, mesmo que a imagem
atrás dele mostre uma coisa diferente do que ele está falando.
Como
essa parece ser uma tendência do jornalismo pós-moderno mundial, não
conseguimos sequer assistir, nem na televisão por assinatura, documentários de
jornalismo investigativo ou científico sem ficar vendo o corpo do narrador
andando de cá para lá, tropeçando pelo caminho, enquanto descreve titubeante o
andamento da investigação.
Sempre
tive o conceito que repórteres apenas devem descrever os fatos, sem emitir
interpretações, opiniões ou exclamações de julgamento sobre o que estão
descrevendo, tarefa a cargo somente dos comentaristas especializados.
Agora
não é assim, além de obliterar quase toda a tela, qualquer repórter
principiante descreve, comenta, julga, exclama, aprova, reprova e pode fazer
caretas de desapreço sobre qualquer assunto, desde lazer esportivo até decisões
de governos estrangeiros sobre política e guerras.
Penso
que textos em papel ou em blogs descrevem aquilo que o autor deseja passar ao
leitor, com algumas fotos e o nome dele logo após o título. Dá para ler,
refletir e reler até entender a ideia que ele pretende passar.
Nas
transmissões por rádio o que importa é receber um bom áudio, bem pausado e
enfático descrevendo o que está acontecendo. Nem sequer precisamos ficar
sabendo o nome do repórter. O que importa é a notícia e não o repórter.
Na
era do vídeo parece que o mais importante é o repórter e não a notícia. É
âncora para todos os lados. A maioria dos nomes dos programas são os próprios nomes
dos “âncoras”.
Se
a reportagem é sobre um confronto entre assaltantes e a polícia, a reportagem
“de fato” será “a opinião do repórter a respeito do confronto” e geralmente
acaba sendo “a reprovação do repórter sobre a excessiva violência da polícia”.
Não dá tempo para refletir, rever ou elaborar um pensamento mais crítico a respeito do que está assistindo e não sabe o que foi omito, acrescentado ou distorcido a não ser que assista a mesma notícia em outro meio de comunicação.
Não dá tempo para refletir, rever ou elaborar um pensamento mais crítico a respeito do que está assistindo e não sabe o que foi omito, acrescentado ou distorcido a não ser que assista a mesma notícia em outro meio de comunicação.
Entendeu
o que eu quis dizer?
Luigi B. Silvi
Twitter: @spacelad43
Contato: spacelad43@gmail.com
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