Negro, gordo, mulato são palavras proibidas pela nova censura.
(Atualizado em 10/10/2016)
Vivemos num mundo
ameaçado pelo medo de ofender alguém com uma anedota, uma palavra ou uma ideia,
antes consideradas banais. O resultado é um novo e escorregadio mecanismo de
censura: a febre da correção política.
Autores:
Juan Soto Ivars (@juansotoivars) e Patricia
Bolinches; Ilustração @laboliespat; Tradução: Luigi
B. Silvi
Talvez você se sinta ofendido por este artigo, porém fica advertido:
isso não é meu problema, é somente seu. A ofensa é um processo interno controlado
pela pressão social, porém você é quem decide o que vai permitir que estrague
ou não seu dia.
Ao menos, assim havia sido sempre, até que a internet nos deu a
possibilidade de ouvir todos os pontos de vista a todas as horas. Porém esse
bombardeio de opiniões, aparentemente saudável e enriquecedor, tornou-se
intolerável para milhões de pessoas. Se as instituições têm reagido como
sempre, com mecanismos de silêncio como a “Lei da Mordaça”, entre a massa
social brota uma censura nova e escorregadia, tão difícil de estudar como de
combater. Quem chama este processo de ditadura do politicamente correto exagera
e quem ignora a decadência da liberdade
de expressão está cego.
Enquanto a cafeteira esquenta durante a manhã, o Twitter nos coloca a
par da polêmica do dia, com a qual milhares de pessoas vão ficar aborrecidas. A
fúria cidadã pode explodir por qualquer motivo, por mais banal de seja. E a grande
mídia, ávida de assuntos polêmicos, dedica-se a propagar o que de outra maneira
permaneceria apenas como mais um rebuliço
nas redes sociais.
Na Espanha, este ano, a TVE viu-se obrigada a pedir desculpas pela
emissão de uma anedota do humorista José Mota “na qual ele caçoava de um doente terminal”; a atriz Blanca Suárez
foi criticada por feministas porque seu “excessivo
decote” estimulava o machismo; a Prefeitura de Gijón suspendeu um concerto
de Francisco “por seus insultos” à
política Mónica Oltra; 50 mil pessoas exigiram a demissão de um professor “que fez anedota com a morte do toureiro
Victor Barrio”. E vou parar por aqui, porque se mencionar a lista completa
deste ano não haveria espaço suficiente nesta edição.
O resultado é sempre o mesmo: gente compartilhando sua indignação. Muita
indignação.
Cada vez mais indignação. O Nobel J. M. Coetzee
explicou que a ofensa é a semente da censura.
Se a suscetibilidade se multiplica e as formas de expressá-la tendem
para o infinito, as pressões também tenderão. De um lado cresce o medo de
ofender e do outro o desejo de “silenciamento”. O cartunista Máximo disse que a
censura não é mais do que a ferramenta das sociedades censoras. É para esse
tipo de sociedade que estamos caminhando.
Super herói censor nº1: Respectus
Sentes estarem
sendo atacados seus princípios e crenças? Consideras que algo está contra as
antigas normas de boa conduta? Ouviste uma anedota sobre um assunto muito sério
que, certamente, deveria estar isento de ironias? Chame Respectus!
Ele se encarregará
de garantir que os símbolos seculares permaneçam inviolados e silenciará as
opiniões divergentes.
Linguagem.
Se o humor é um campo de batalha, as palavras são os
obuses dos canhões. Nos últimos anos, comunidades variadas confeccionaram
listas de termos ofensivos para que o resto dos oradores parem de usá-los. Como
se o verniz léxico fizesse desaparecer as injustiças e as discriminações. A
tuitera@LarisaOtero recolhe por vício muitas dessas manifestações curiosas. Por
exemplo, esta queixa de um vegano [vegetariano
radical]: “Cada vez que escuto uma canção
que menciona a polícia, ‘soltam os cachorros’ como insulto e fodem com a
canção. Deixem disso, é detalhismo”.
Como é muito difícil lutar contra todas as classes
de opressão, os defensores da linguagem politicamente correta dedicam
seus esforços ao estilo literário. Propõem substituições rebuscadas para as
palavras mais comuns. Em geral, onde bastaria um substantivo, introduzem
explicações conscienciosas que deixam muito claro que o orador é um manancial
de respeito e tolerância. Por exemplo, “negro
puto” seria expresso como “pessoa de
cor de origem africana em situação de exploração sexual”.
Os defensores da linguagem inclusive chamam este processo de normalização, porém, que tipo de
normalidade consiste em substituir palavras por definições?
Neste sentido, o escritor e acadêmico Javier Marias é taxativo: “Dizer que alguém é negro equivale para mim a
dizer que é vermelho, roxo ou sardento. Não vou usar na minha vida eufemismos
absurdos como ‘subsaariano’ ou ‘afro-americano’. Os verdadeiros racistas são
aqueles que usam esses termos. São eles que vêm algo de ruim ou negativo em
usar ‘negro’. Não eu”.
Não basta que um discurso seja respeitoso ou razoável: o aparecimento de
um termo proibido pode configurar o orador como indesejável. O lado positivo
desta maneira de detecção de agressores, como um GPS da oratória, é que evita
ao receptor da mensagem o esforço de pensar.
Certamente, ninguém deveria permitir que um desavisado o insulte por sua
condição de mulher homossexual e africana. O problema é que a alergia às expressões está convertendo
em insultos palavras que não o eram, e dado que essas polêmicas se filtram
pelos meios de comunicação, a “neolingua”
politicamente correta acaba ocupando espaços dentro das próprias leis do país.
Super herói censor nº2: Bruxinha Atômica
A bordo de sua vassoura
voadora, a Bruxinha Atômica patrulha para que ninguém ofenda mulheres, gays ou
lésbicas. Bloqueia todo o machismo que encontra e dedica-se a organizar o mundo
em novas categorias, inclusivas, respeitosas e capazes de captar todas as
correntes da eterna fonte da diversidade. Ai de quem as tire de ordem!
Censura Institucional. A censura
institucional, diz Coetzee, é um sinal de debilidade do Estado. A Espanha não é
igual aos Estados Unidos, mas vai pelo mesmo caminho. A censura aparece nos
lugares mais insuspeitos, por exemplo, na “Lei
de Identidade de Expressão de Gênero e Igualdade Social e Não Discriminação”
da Comunidade de Madrid (2/2016). Esta norma estabelece proteções para os
transexuais, desde a escola até o hospital, passando pelo escritório e
representa um avanço social inegável e positivo. O conflito chega no Título X.
É infração administrativa leve “utilizar
ou emitir expressões vexatórias contra as pessoas ou suas famílias por sua
identidade e/ou expressão de gênero em qualquer meio de comunicação, em
discursos ou intervenções públicas em redes sociais”.
Negar-se a remover as ofensas converte a falta em grave e também a
reincidência. Se estabelecem multas entre 200 e 20 mil euros. Porém a lei não
estabelece que “expressões” se
considerarão vexatórias. Fica, pois, nas mãos do ofendido oferecer a
denúncia. A partir dali tudo dependerá do Juiz.
Paralelamente, os políticos trabalham no assunto da linguagem inofensiva
e às vezes tentam neutralizar com conselhos as linguagens viperinas dos
jornalistas. Nessa linha, a Prefeitura de Madrid publicou um guia no qual
recomendava aos meios de comunicação um
novo vocabulário para referir-se à prostituição. Entre outras muitas
considerações, propõem eliminarmos a palavra cliente quando nos
referirmos a um “puteiro” e oferecem
em troca, vejam bem, demandante de prostituição. Parece
que aos políticos lhes gostaria que o jornal pareça o Diário Oficial.
Disse Marias que, “quantas mais
palavras se consideram intoleráveis, vexatórias e demais, mais vocábulos ficam
malditos e muitas vezes proibidos. Nos Estados Unidos houve gente demitida de
seu emprego por usar tal ou qual palavra, como antigamente podia ser demitido alguém
se que falasse a palavra ‘foder’ em público”.
Provavelmente referia-se ao humorista Lenny Bruce, que se suicidou com
heroína em 1966, depois de que o Estado lhe aplicou uma multa por ele ter
falado a palavra “fuck” (foda) em um de seus monólogos. Segundo a
definição estrita de “censura”, podemos dizer que ninguém censurou Lenny Bruce.
Apenas as casas noturnas deixaram de contratá-lo por medo de que falasse “fuck”, as revistas deixaram de falar
dele e mesmo que apenas teve que pagar uma multa, o preço por ter pronunciado a palavra “foder” o fulminou.
Super Herói Censor
nº3: Capitão Afro
O protetor das minorias vigia os comentários supostamente racistas e
todas palavras suscetíveis de tornar-se ofensiva contra qualquer grupo social.
Todas as noites, a voz da humanidade,
de todas as suas minorias, fala diretamente em seus sonhos. Às vezes toma forma
de índio Ianomâni, de guerreiro
africano, de mongol a cavalo e uma vez foi de um esquimó.
Os
bons. Hoje, uma condenação como a de Lenny Bruce
parece-nos patética e anacrônica. Em nossa sociedade do século 21,
desenvolvida, respeitosa com as minorias e progressista, já não é malvisto se
fizer alguma gozação com alguém da platéia. Outra coisa muito diferente é a
reação de um homem heterossexual quando fica excitado com alguma coisa erótica.
A banda “Novedades Carminha” estreou em setembro um videoclipe onde
podemos ver o pênis do ator Sulvan Gavroche introduzindo-se nas doces cavidades
de Amarna Miller, supomos que com o consentimento explícito dela e por mútuo
prazer, como mandam as normas do pornô feminista. Tudo ida bem, tudo era
felicidade e internautas “agitando a sardinha” ao ritmo da música até que Andrea
Levy escreveu no Twitter que a canção a aborrecia.
Quando Gavroche leu que uma deputada do Partido Popular elogiou seu
desempenho, respondeu-lhe jocosamente com um tweet acompanhado de emoticons:
“Repetimos o vídeo, porém agora com
Andrea”? Imediatamente várias mulheres acusaram o ator pornô por assédio
sexual. Gavroche não tardou um segundo em desculpar-se. “Foi uma cagada machista”, disse ele aos meios de comunicação, porém
eu pensei que a “cagada machista” era em todo o caso sua desculpa.
Gavroche comportou-se segundo os códigos do essencialismo ideológico, uma das bases da nova censura. Deu a
impressão que Andrea Levy era uma garotinha indefesa e incapaz de defender-se
de quem ela considerava ser um “velho babão”. Precisava Levy que viessem defendê-la?
Era pertinente a desculpa pública do ator por escrever uma bobagem como essa?
Se eu tivesse publicado essas perguntas no Twitter, haveria acendido o estopim
do debate. Como não me apetecia, perguntei diretamente a Andrea Levy.
“Acredito que Gavroche escreveu um
bom tweet, sem pensar seguramente que outros poderiam julgá-lo por causa da
profissão dele”, disse ela. “A
verdade é que não vi nele machismo ou lascívia. Acredito que faça isso
habitualmente. Não lhe dei importância porque pensei que tudo ia ser de bom tom
e não entendi que fosse uma proposta real”.
Porém o caso é que Gavroche ficou muito bem confraternizando com a
suposta vítima de seus abusos. Este é um exemplo perfeito para ilustrar como
funcionam os guardiões da moral, que sempre estão estabelecendo o que se pode
ou não se pode dizer: transformam qualquer simples evento inconsequente em uma
nova batalha de sua ideologia e irrompem na festa como beatas de liga contra
bebidas alcoólicas. Os censores sempre acreditam estarem atuando pelo bem da
comunidade.
Super herói censor nº4: Infantoguardião
Qualquer mensagem dirigida à infância terá que ser moralizante e
cuidadosa para não quebrar a suposta inocência das crianças. Infantoguardião acredita que crianças
não são capazes de discernir entre realidade e ficção. O grande vigilante
peludo envolve-as com uma barba protetora contra o mundo real. Quem tenta
rompê-la é um corruptor de menores.
Sociedade
Censora. O vereador do partido “Agora Madrid”, Guilhermo
Zapata, foi perseguido por algumas anedotas sobre Irene Villa, apesar dela
assegurar não ter ficado ofendida e que apreciava o humor negro. Naturalmente,
as palavras da vítima de ETA [grupo
separatista basco] não foram levadas em conta. Segundo o escritor e jornalista Edu Galán, da
revista Mongólia, os moralistas atuam movidos por um mecanismo psicológico
bastante básico: “Quem se ofende coloca-se mentalmente em posição superior ao
ofensor. A frase ‘eu jamais riria disso
do que você ri’ não significa que você é um desalmado, senão que esta
pessoa está muito feliz por sentir-se superior a você”.
Os guardiões da moral têm sido sempre promotores da
censura. Eles contribuem para que vivamos em “uma sociedade censora”, como dizia Máximo. Em outros tempos, a
foice pertencia ao clero. Sem dúvida, o desenvolvimento da sociedade capitalista
nos tem dado muito mais opções para onde focar o fanatismo.
Este verão, assistimos à perseguição pública da escritora Maria Frisa,
por sua obra “75 conselhos para
sobreviver na escola”. Uma horda de acusadores, em sua maioria sem ter lido
o livro, exigiram que a editora Alfaguara, por meio de uma petição pública em
change.org, removesse o texto por “machismo”
e “apologia ao constrangimento escolar”.
Frisa colocou na boca de um personagem fictício, estudante de 12 anos,
frases como: “Acaso é minha culpa que ela
seja feia e não tenha namorado? ”
Não dando ouvidos às declarações de numerosos intelectuais recomendando
que a horda selvagem parasse um momento e lessem o livro, foram coletadas mais
de 33 mil assinaturas pedindo a proibição do livro.
O pesadelo de Frisa encontrou espaço em todos os meios de comunicação,
boa parte dos quais limitou-se a reproduzir os argumentos dos linchadores, sem
abordar qualquer ponto de vista contrário. Longe de combater as polêmicas
absurdas da internet, os jornalistas as elevam à categoria de notícia com
títulos como este, publicado no jornal “El Plural”: “Rafael Hernando ofende a Andaluzia”. E tudo por causa de uma frase
na qual o falastrão oficial do Partido Popular pedia para que tirassem a
comunidade autônoma “do pelotão dos
trapalhões”.
Caberia perguntar se a Andaluzia é um ser humano que sente e sofre e que
lugar ocupa então qualquer cidadão andaluz que se negue a aborrecer-se pelo que
diz um tipo como Rafael Hernando.
Humor. O humor é
um extrato da inteligência, assim que, num mundo cheio de idiotices, sempre
acaba indo para o centro da polêmica. A chacina do “Charlie Hebdo” [revista satírica francesa] foi a
primeira consequência grave de fazer humor irreverente num mundo globalizado.
Vinte anos atrás, algumas caricaturas de Maomé, publicadas por uma revista
francesa, teriam permanecido confinadas na França. Atualmente, a milhares de quilômetros
de Paris, desencadearam os protestos violentos [dos muçulmanos] que culminaram com o atentado.
Os bons costumes recomendam não fazer anedotas sobre aidéticos se alguém
da família de Freddy Mercury estiver presente, porém a internet converteu o
planeta inteiro numa “casa de enforcado”.
Qualquer “João Ninguém” pode meter-se num emaranhado de dimensões geológicas
por fazer uma piadinha inconveniente em uma rede social.
Existe quem assegura que, numa situação semelhante, a solução é que sejamos
todos muito respeitosos. Pergunto-me se enquanto os terroristas muçulmanos fuzilavam
Cabu, Charb, Elsa Caat, Oncle Bernard, George Wolinski e Tignous, os desenhistas
do “Charlie Hebdo” estariam pensando: “Sejamos
racionais: como fizemos uma anedota contra a crença deles, estes
bons muçulmanos têm todo o direito de fuzilar-nos”.
O comentário do Papa Francisco, dois dias depois do atentado, foi por
aí: “se ofendes à minha mãe, quebrarei
sua cara”. Manuela Carmena veio a sugerir o mesmo de outra maneira: “se nos respeitássemos todos um pouquinho
mais, essas coisas não aconteceriam”. Às vezes é muito difícil respeitar os
fanáticos... O jordaniano Nahed Hattar negou-se a fazê-lo e enquanto escrevia o
que pensava, foi assassinado na porta do tribunal de Amã [Jordânia], que ia
julgá-lo por uma caricatura considerada ofensiva ao Islã.
Na Espanha, o artista Eugenio Merino salvou-se por pouco de ser queimado
numa fogueira. Depois de seus problemas judiciais com a Fundação Francisco
Franco, por colar uma imagem do ditador
numa máquina de refrigerantes, teve que correr das religiões monoteístas
por ter feito uma escultura que expressava que nenhuma delas merecia muito
respeito.
Disse Merino que “os fiéis sempre
pedem para si mesmos, porém são incapazes de respeitar-me por que não acredito
em nada. Sempre temos que aguentar suas procissões e suas ladainhas e até
suportamos que se metam na política por mais que nos aborreçam. E vamos nos
aguentando, vá lá. Porém continuam mais ofensivas as anedotas, as novelas ou as
obras de arte”.
O tuiteiro e escritor @Hematocrítico expõe
o dilema com eloquência:
“Existe gente que diz que o humor
não pode ofender ninguém. Isto é algo completamente impossível. A mim podem
ofender-me as anedotas de gordos ou de carecas ou de portugueses. A você as dos
murcianos e modernos. E por quê? Para mim, o verdadeiro limite do humor é a
palavra humor. Tem que ser engraçado”.
Existe, sem dúvida, um tipo de humor absolutamente respeitoso: chamemo-lo
de humor democrático. Para que uma anedota
seja democrática deve evitar palavras injuriosas e temas polêmicos, como a
morte (meu avô está morto e isto me incomoda), as enfermidades (meu avô morreu
por causa de uma doença), as localizações concretas (meu avô veio de um
povoado) e os animais (meu avô latia).
O psicólogo Richard Wiseman encontrou esta anedota branca e democrática
com um experimento. Coletou 40 mil anedotas enviadas por internautas num site da internet, pedindo que pontuassem
suas favoritas.
Como algumas pessoas pontuavam com valores muito elevados anedotas que
outros castigavam por considerá-las ofensivas, a anedota vencedora, a suposta
piada mais engraçada do planeta, eleita democraticamente por centenas de
milhares de pessoas, resultou ser um jogo
de palavras neutras, inocente e insosso, enviado por um psiquiatra de
Manchester [Inglaterra}.
“Dois caçadores estavam num bosque
quando um deles cai duro no chão. Parece não respirar mais e está com os olhos
opacos. O outro caçador pega seu telefone celular e chama o serviço de
emergência. ‘Meu amigo está morto, o que devo fazer?’, pergunta ele, histérico.
A operadora responde: ‘Acalme-se, vou ajudá-lo. A primeira coisa a fazer é
assegurar-se que seu amigo está realmente morto’. Segue um longo silêncio e
depois ouve-se um tiro. Novamente ao telefone, o caçador diz: ‘Valeu! E agora o
que faço’? ”
Não existem estatísticas sobre os traumas incuráveis que foram
provocados por anedotas politicamente incorretas ou diretamente abomináveis. Sem
dúvida, parece razoável dizer que nem a anedota mais abominável do mundo pode
matar uma mosca... desde que a mosca não esteja na sede da revista “Charlie
Hebdo”.
Porém cada vez são mais os contextos nos quais a ofensa se identifica
com o bem e a provocação do mal. Esta é a chave da nova onda de censura. Nem sequer num país pequeno como a
Espanha, onde somos todos mais ou menos igualmente otários, existe consenso
entre o que é aceitável e o que é intolerável, entre o doloroso e o inofensivo.
Enquanto o poder reforça com técnicas próprias dos tempos do No-Do
[Noticiário-Documentário], as hordas censoras digitais só precisam mover os
dedos na tela do iPad.
Texto original espanhol publicado na edição de 09/10/2016:
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